Na minha puberdade acabei por me cansar das leituras que me entretinham as longas horas das férias: Júlio Verne, Salgari, Walter Scott, os contos do Conan Doyle.
Agatha Christie ainda me ajudou um pouco a alargar os meus horizontes de jovem curioso e insatisfeito. Mas foi por pouco tempo.
Agatha Christie ainda me ajudou um pouco a alargar os meus horizontes de jovem curioso e insatisfeito. Mas foi por pouco tempo.
Portugal era um país triste e assustado, encerrado numa cortina de ferro que a ditadura procurava manter a todo o custo. Eu queria olhar para lá do horizonte, conhecer mundo e responder ao estampido das hormonas que me afogueavam as labaredas da minha curiosidade.
Foi este desejo de conhecer mundo através dos livros - nessa altura em Portugal não havia outra possibilidade - que mais uma vez entrei na única livraria de Leiria e expus ao proprietário esta ambição que me torturava os dias.
Ele olhou-me através das suas lentes grossíssimas e após pensar um pouco escolheu um livro que iria mudar a minha vida: "Olhai os Lírios do Campo" de Erico Veríssimo, um exemplar que hoje, passados 60 anos, ainda tenho comigo.
Este homem que se tornou o meu mentor cultural e que alterou a minha mente através dos livros que ia escolhendo para mim, chamava-se Martins. O senhor Martins
Há dívidas de gratidão que não se conseguem pagar nunca.